terça-feira, 18 de novembro de 2008

Blog destinado a algumas considerações sobre temas propostos no curso "Alfabetização e Linguagem"


Bruno Pereira Azevedo, aluno da Escola Classe 53 de Ceilândia, entrega medalha de reconhecimento à Xuxa por sua atuação em defesa do meio ambiente e da paz ( Evento Word Eco 2008, realizado em 31 de outubro de 2008, no Museu da República).



Alunos da Escola Classe 53 de Ceilândia visitam a Casa do Cantador, entrevistam artistas nordestinos, conhecem a biblioteca destinada à literatura de cordel e apreciam o trabalho dos repentistas.




Curso Alfabetização e Linguagem:
Propostas a uma nova prática pedagógica
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que – fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade”
Paulo Freire, Pedagogia da Autonomia, Saberes necessários à prática pedagógica


O mestre Paulo Freire argumenta de maneira veemente em sua obra, sobre a necessidade de que os educadores sejam capazes de analisar criticamente a sua prática. Nas entrelinhas de sua fala está o professor pesquisador. Aquele que questiona, que indaga , que busca. Aquele que se analisa e se modifica à medida que o contexto pedagógico lhe exige isso.

O curso “Alfabetização e Linguagem” promovido pela EAPE em parceria com o CFORM, é uma importante iniciativa que dialoga com a perspectiva proposta na obra deste grande educador. A formação inicial oferecida nos cursos de licenciatura, não dão conta de atender a todas as demandas com as quais o professor depara em sua sala de aula.

É imprescindível investir em formação continuada, de forma permanente e ampla, atingindo cada vez mais professores. É importante que este educador não se sinta só em sua atividade. Mais do que pessoas para “professar”, “palestrar” para os professores, é necessária a atuação de profissionais que possam subsidiar o seu trabalho, possam oferecer-lhe alternativas, parceria, companhia, nesta cada vez mais complexa tarefa de educar, em uma época cheia de desafios.

O curso mencionado vem ao encontro desta necessidade. Ele propõe o atendimento a seis mil professores da Rede Pública de Ensino do Distrito Federal. Com uma carga horária de 180 horas, sendo 136 delas presencias em 34 encontros com 44 horas indiretas destinada à realização de atividades. Será realizado de 25 de março à 04 de dezembro e terá como critérios de avaliação a freqüência mínima de 75%, e o cumprimento das atividades propostas pelos tutores, com obtenção, no mínimo de nota 07.

Nossa turma é formada por professores lotados na DREC e com exercício em diferentes escolas. Nossos tutores são Lenita e Maurício.


Ao longo dos mais de dez meses em que estivemos envolvidos com o desenvolvimento do curso, tivemos a oportunidade de participar de interessantes discussões sobre o ensino da língua portuguesa. Estas considerações contribuíram decisivamente para que eu lançasse um outro olhar sobre o meu trabalho em sala de aula. Só para citar alguns exemplos, os estudos do curso me motivaram a levar os meus alunos para conhecerem repentistas, escritores de cordel, o museu da memória viva de Ceilândia, me incentivaram a trabalhar de maneira mais freqüente com a leitura dos textos literários e jornalísticos.

Mudei a minha concepção sobre o ensino da língua e descobri que tenho muito a aprender ainda. Conclui que nós, professores de língua portuguesa, temos diversos desafios a vencer. Precisamos encontrar estratégias que permitam aos nossos alunos desenvolverem mais amplamente, de maneira mais eficaz, habilidades e competências relacionadas à leitura e à escrita. Precisamos trabalhar em uma perspectiva na qual eles venham a ser leitores críticos, usuários da língua escrita e oral, que atuem como cidadãos e aprendizes autônomos.

O material proposto para o estudo apresenta uma linguagem clara, acessível e objetiva. Além de teorizar sobre as temáticas propostas, os autores tiveram o cuidado também de apontar caminhos viáveis, de sugerir mudanças e atividades práticas, pertinentes à nova concepção de ensino da língua pela qual o curso é norteado.

Os tutores revelaram um enorme esmero no planejamento das aulas. A cada encontro ficou muito evidente a organização prévia, a preparação do material a ser utilizado e a preocupação de que o que estava sendo proposto dialogasse com a realidade dos cursistas. Além de preocuparem-se em contemplar o programa sugerido para o curso, os tutores também evidenciaram o cuidado em criar um espaço de intercâmbio de experiências entre os professores, deram ao curso um caráter dinâmico e interativo.

Sem dúvida foi uma experiência muito proveitosa que eu espero que se repita nos anos seguintes.

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Alunos da Escola Classe 53 de Ceilândia participam de evento WORD ECO 2008- O meio ambiente por inteiro na capital federal do Brasil. A atividade contou com a participação da apresentadora Xuxa Meneghel, do astronauta Marcos Pontes e do biólogo Sérgio Rangel.

A Escola Classe 53 de Ceilândia foi selecionada para participar de uma cerimônia de premiação à apresentadora pelo seu trabalho desenvolvido em defesa do meio ambiente.

Para participar a escola deveria levar trinta e cinco alunos da 5ª série e um texto que contemplasse o tema “Meio ambiente e Paz” e que fosse produzido por eles.

Organizamos duas oficinas na escola: uma com os professores de ciências sobre o meio ambiente e outra de produção de texto que ficou sob minha responsabilidade. Os alunos elaboraram textos de opinião sobre o tema e nós selecionamos o melhor deles.

O passeio ocorreu no dia 31 de outubro deste ano, sexta-feira, a partir das 13 horas. Para os alunos foi uma alegria. O evento denominado “WORLD-ECO 2008 – O meio ambiente por inteiro na capital do Brasil” proporcionou-lhes a oportunidade de conhecer a mais recente obra de Oscar Niemayer na capital, o Museu da República. Muitos ficaram fascinados e confessaram que era a primeira vez que saíam da Expansão do setor “O” para o Plano Piloto.

No dia ouviram uma palestra com o astronauta Marcos Pontes e o biólogo Sérgio Ragel ( é, aquele mesmo que participa do programa da Eliana) e no fim da tarde, lá pelas 17h30 foram surpreendidos com a chegada da Xuxa.

Ela foi super simpática, falou sobre a importância de educar as crianças para protegerem o meio ambiente e recebeu uma medalha de reconhecimento pela sua militância e trabalho pró natureza.
Para definir a criança que entregaria a medalha para a Xuxa, o cerimonial do evento realizou um sorteio entre os participantes que produziram e leram os seus textos.
Para a alegria da nossa escola foi anunciado o nome do Bruno Pereira Azevedo, nosso aluno da 5ª série “C”.

As crianças ficaram muito emocionadas por terem participado do evento. Chegaram à escola eufóricas, com a adrenalina a mil. A impressão que tive é que elas sobretudo tiveram a oportunidade de conhecer coisas novas, diferentes, sentiram-se valorizadas por estarem em uma atividade preparada especialmente para elas e com a presença de pessoas que são tão representativas na mídia.

Foi uma experiência bem legal, com direito a publicação de matéria no Correio Braziliense e foto de página inteira do Bruno na revista Caras da semana seguinte ao evento.


Letramento Digital




Nos últimos cinqüenta anos o mundo passou por mudanças talvez sequer imaginadas. A comunicação on line redimensionou as relações interpessoais, o mundo dos negócios, as ciências, a medicina... nada ficou igual depois do advento das Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação (NTICs).

Diante de tantas mudanças, à escola é imputada uma nova responsabilidade. A de instrumentalizar seus alunos para lidar com todas as novas linguagens e recursos tecnológicos a que se pode ter acesso hoje.

No curso “Alfabetização e Linguagem” discutimos todas estas mudanças e as novas demandas da educação, à luz do texto “ Letramento Digital”. O autor, de maneira muito consistente, sugere uma reflexão sobre o termo letramento alfabético. Ele lembra que o termo designa a habilidade que o indivíduo apresenta de, a partir do conhecimento do código escrito, inserir-se em seu meio de maneira autônoma.

O indivíduo letrado, esclarece o autor, é aquele em condições de utilizar o texto escrito, a leitura, para se comunicar, se fazer entender, interagir com seus pares nos diferentes contextos em que se insere, cumprir seus papéis sociais, utilizando a tecnologia da palavra escrita, tanto quanto isto lhe é solicitado.

Mas o autor vai mais longe. Ele discute também o letramento digital, que estaria relacionado à capacidade do indivíduo de utilizar as NTICs no trabalho,na escola, nas suas relações interpessoais, etc.

O autor lembra que os dois tipos de letramento têm uma relação muito próxima. Para exercer plenamente o letramento digital, o indivíduo deverá ter domínio do letramento alfabético. É como se o segundo oferecesse suporte ao primeiro.

Neste sentido,a escola tem a tarefa de trazer aos seus alunos o conhecimento deste aparato tecnológico que permitirá a eles maiores condições de efetuar aprendizagens significativas, melhores condições de exercitar o dois tipos de letramento, perspectiva de inserção no mercado de trabalho, etc.

E parece que estamos aí diante de um grande desafio. Nossas escolas ainda remetem ao século passado. A estrutura física é arcaica e as tecnologias como o computador, a internet ainda são usados de maneira precária, como elementos periféricos à aprendizagem.
Para vencer este desafio um caminho possível, além de fornecer às escolas computadores, é investir na formação continuada de professores, motivá-los e instrumentalizá-los a inserirem em sua prática pedagógica as NTICS.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Comentário ao filme “Desmundo” de Alain Fresnot, inspirado na obra homônima de Ana Miranda



As mancebas, nenhuma de nós dormia, de boca fechada, os ouvidos alongados, cada qual a pesa em seu coração que dias viriam, que ventos assoprariam, o que haveria ali, recolhidas nos pensamentos de nossa fortuna, ocupando-os no sentimento das coisas que nos mais doíam, uma inquietação de pouco sono e medo das nossas próprias imaginações, as quais nos faziam desejar grandemente a chegada da manhã porque tudo quanto podíamos estender aos olhos era a pequena ordem com que a desventura nos tinha cortado a vida.”


O trecho acima é parte do livro “Desmundo de Ana Miranda”, texto que originou filme com o mesmo nome. Trata-se de uma narrativa em primeira pessoa pela voz de Oribela, uma das tantas órfãs que são enviadas pela rainha de Portugal ao Brasil a fim de constituírem casamento com os primeiros colonizadores portugueses que aqui estavam.

Toda a história se passa por volta de 1570. Ana Miranda consegue no romance, resgatar o português arcaico e dar ao seu texto maior verossimilhança. A voz que conduz toda a narrativa é a da jovem religiosa, sensível, Oribela, que sem possibilidades de escolhas, vê-se em um mundo que ainda emerge no caos da colonização, mas que já manifesta muito claramente como eram tratadas e vistas as mulheres à época.

O filme tem uma bela fotografia, um figurino primoroso e a atuação de profissionais como Simone Spoladore, Caco Ciocler e Osmar Prado. Ele propõe um novo olhar sobre o processo de colonização. Em uma escolha ousada, traz a história do Brasil pelo prisma de uma mulher, um segmento a tanto silenciado.

A adaptação da obra de Ana Miranda aponta as relações comerciais, a influência da igreja, o trato com as mulheres no contexto do processo de colonização do Brasil. Mostra os movimentos que determinaram o surgimento do “povo” brasileiro. A presença do índio, do negro, dos missionários católicos.

Todo este contexto serve de pano de fundo para que Oribela lide com a nova realidade na qual se vê. A violência de ter sido arrancada de sua terra, de sua ordem religiosa, é radicalizada quando se vê obrigada a casar-se com um estranho, por quem só consegue sentir ojeriza.

Desde o primeiro momento em que percebe como se darão todos os acontecimentos a partir daquela viagem de nau às terras brasileiras, Oribela mostra-se disposta a lutar contra o destino que lhe fora imposto. Resiste à tentativa do marido de ser tomada como esposa, tenta convencê-lo do que representa para ela dormir com alguém que não conhece.

Foge por duas vezes e na segunda conhece Ximeno com quem vive uma grande paixão. Mas Francisco de Albuquerque, seu marido, não abre mão daquilo que considera uma propriedade sua e vai em busca de Oribela. Os dois homens confrontam-se e Ximeno é morto. A história se encerra com Oribela deixando sua casa com um filho no colo, resignadamente.

Na narrativa apresentada, em nenhum momento as mulheres têm a possibilidade de decidir seus destinos. Sua vontade, seus desejos é o que menos importa. Sua condição primeira é de servas de seus maridos, destinadas a cuidar da casa e parir, a fim de assegurar a continuação de sua linhagem, e apenas isso.

O filme pode ser um valioso recurso pedagógico, já que permite uma reflexão sobre o processo de colonização do Brasil, proporciona o conhecimento de como era falado o português arcaico e traz a inovação de ter uma personagem feminina emprestando a sua voz à condução da narrativa.

Pode ser usado como um referencial para se discutir como se constroem as convenções culturais, as identidades sociais e como elas podem ser desconstruídas.

A palavra “Desmundo” em si, revela a idéia de um mundo em processo, em um entre lugar. Todos os novos residentes daquele mundo, negros, colonizadores, as órfãs trazidas pela imposição da corte portuguesa, vivem em um “não mundo”.

Filme recomendado àqueles que desejam compreender a gênese da história brasileira e especialmente como surge a forma de compreender a mulher no contexto de suas relações sociais.



Alunos selecionam textos jornalísticos para montagem de Jornal Mural na sala de aula e recebem acompanhamento em visita à biblioteca da escola.


Refletindo sobre o livro didático

O encontro destinado à análise do livro didático mostrou-se muito proveitoso. Cada aluno levou o livro em uso com os seus alunos e apresentou para a turma algumas considerações. Foram abordados aspectos como: projeto gráfico, proposta de atividades para produção de texto, projeto de estímulo à leitura.

Concluímos que o livro didático é um valioso recurso pedagógico, mas que a sua escolha deve levar em conta questões como: qual a noção de língua adotada ou sugerida nele? Ele propõe atividades ligadas à oralidade? Oferece textos diversificados? Ensina a produzir textos?

Foi mencionado que o livro didático surgiu como uma resposta à necessidade de auxiliar o professor no seu trabalho, em uma época em que não existiam tantas universidades e instituições para formar professores. Diante da universalização do ensino, a demanda por professores cresceu de maneira expressiva e mesmo aqueles que eram professores “leigos” passaram a assumir turmas. Estes professores recebiam o manual didático para que tivessem diretrizes que norteassem o seu trabalho.

Os primeiros livros didáticos apresentavam problemas ligados à representação estereotipada de minorias como negros e mulheres. No caso dos livros de história se privilegiava uma versão “romanceada” que contribua em pouco para formar cidadãos críticos.

Hoje, o Ministério da Educação formulou critérios rigorosos sobre os quais os livros devem se orientar. Para ser selecionado o livro precisa passar pelo crivo de professores e obedecer a uma série de pré requisitos.

Vale destacar que um professor pesquisador, terá, também sobre o livro didático, um olhar lúcido. Além de avaliar as questões aqui apontadas e outras tantas sugeridas pelo MEC, o educador deverá observar também a compatibilidade deste livro com o perfil dos seus alunos. De alguma maneira aquele livro deve dialogar com a realidade do público a que se destina, deve fazer sentido para ele. Mesmo porque, concluímos no curso, que só o livro didático não daria conta, por exemplo, de por si só formar leitores.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Variantes linguísticas


Durante muito tempo, o ensino da língua portuguesa privilegiou como “norma culta”, com status de superioridade, a forma de falar que obedece às convenções da gramática normativa. Nas últimas décadas, graças a ampliação dos estudos na área da lingüística, lançou-se um novo olhar sob a maneira de se ver a língua.

Em um país com uma cultura rica e diversificada como é o Brasil, seria impossível imaginar uma língua una, padronizada, que se manifestasse da mesma forma em qualquer região. Tão rico quanto a cultura brasileira são os “falares brasileiros”.

A influência africana, indígena e portuguesa por si só, contribui para as enormes variações que se percebe de uma região, estado, lugar para outro, dentro de um mesmo país.

Mas, há variações de outra natureza. O nível de escolaridade, a profissão, o sexo, a idade, o contexto social em que o falante está inserido, fará com que a sua maneira de utilizar a linguagem oral, a língua portuguesa seja diferente.

Dependendo da idade do falante, haverá uma incidência maior de gírias, dependendo da situação de comunicação haverá mais formalidade. Estas variações não podem ser classificadas ou valoradas tendo como critério unicamente o quanto elas se afastam da norma padrão.

Ao apresentar o assunto em sala de aula para o aluno, é preciso ajudá-lo a perceber que todas as variações são corretas à medida que atendem a situação de comunicação a que se propõem. Atitudes preconceituosas ou discriminatórias, diante de uma fala que se afaste do padrão, devem ser evitadas e combatidas.

Por outro lado, o aluno precisará dar-se conta da necessidade de fazer a adequação de sua fala para cada contexto lingüístico. É necessário dar a este aluno condições de perceber em que momento afastar-se da norma padrão é admissível e em que situações ele não poderá fazê-lo.

E considerando que a norma padrão é a que possui maior prestígio social, e que sabidamente conhecê-la, utilizá-la, contribui sobremaneira para que o falante tenha mais oportunidade de inserção na sociedade, nos espaços acadêmicos, no mercado formal de trabalho, é imprescindível que a escola permita a este aluno o conhecimento, o estudo, e o exercício do uso da norma padrão.